Desconhecido
20 fevereiro 2025
11 min para ler
Personagens:
Jesus – Túnica branca
Drogado – Roupa pobre meio suja, cigarro na orelha.
Rico – Bem vestido com fato e mala de negócios. Relógio dourado e pulseira dourada.
Idólatra – Saia a baixo do joelho justa com camisa branca apertada até a cima e casaco preto. Collants pretas e sapatos pretos. Véu preto, santinho e terço.
Celebridade – Bem vestido com roupa moderna.
Religioso – Fato e gravata, com Bíblia na mão.
Criança – Vestido infantil e totós no cabelo.
Jesus – Estava à tua espera!
Drogado – Ya meu, eu sei que sou importante; então, diz lá.
Jesus – Quero saber como tem sido a tua vida.
Drogado – OK, (passa a mão pelo cabelo) eu sempre disse que a minha vida dava um ganda filme.
Jesus – Então começa, mas desde que eras pequeno.
Drogado – Naa… a minha vida antes dos 14 anos não tinha muito interesse.
Jesus – Ias à igreja, lembras-te?
Drogado – Ya, era muita chato. (Muda o tom de voz) “Vamos ficar de pé para cantar um hino”. (Volta à sua voz) Sabes? Eu até cantei no coral! (Muda o tom de voz novamente) “Agora, vamos ler a Palavra de Deus…” Era cá uma seca!
Jesus – E porque deixaste de ir à igreja?
Drogado – Eh pá, aquilo tinha regras de mais para mim.
Jesus – Mas houve um dia que tomaste uma decisão por mim.
Drogado – Pois foi. Até estava a curtir a cena! Sabes aquele sentimento de paz e alegria aqui dentro (aponta para o coração).
Jesus – Então, o que aconteceu para te desviares?
Drogado – Cenas mais à frente, tás a ver? Queria mesmo estar no grupo do Vavá, “vou, não vou; vou, não vou” e fui. Depois experimentei umas ganzas, bebi umas cenas e apareceram lá umas gajas mesmo boas; oh pá, aquilo é que era vida. O pastor da igreja ainda veio falar comigo, mas um gajo tem de aproveitar enquanto é novo.
Jesus – Sabes como morreste?
Drogado – Ya, injetei-me e tufa, morri. Eu nem era viciado, quando quisesse deixava na boínha!
Jesus – E fizeste alguma coisa para ter a Vida Eterna?
Drogado – Então, Tu próprio acabaste de falar nisso. Então não aceitei o Senhor quando era miúdo?
Jesus – Ninguém que lança mão do arado e olha para trás, é apto para entrar no Reino de Deus. (Estica o braço para apontar a saída) Aparta-te de Mim!
(O rapaz sai a reclamar)
Rico – (Entra com ar arrogante) Bem, até que enfim chegou a minha vez. Afinal, (levanta o braço para mostrar as pulseiras de ouro) nós os ricos, devíamos estar sempre no primeiro lugar. (Olha em volta) Uhm, isto é bonito… parece um bom lugar para viver... como no Paraíso. Podia fazer aqui um grande empreendimento. (Vai apontando para diferentes lados) Um campo de golfe aqui, uma piscina ali, (pensativo) aqui fazia uma vivenda enorme; para o jardim arranjo um desgraçadinho que trate dele por pouco dinheiro.
Jesus – Olá!
Rico – (Vira-se) Ah, estás aí, nem Te via… isto deve ter custado uma fortuna. Queres negociar?
Jesus – Não, Eu não faço negócios!
Rico – Pois fazes mal. Até podíamos ser sócios. Passavas o terreno para o meu nome, eu administrava os Teus bens e ficavas rico enquanto o diabo esfrega um olho.
Jesus – Talvez, mas eu não quero bens materiais. (Pausa) Estava à tua espera; como sabes morreste há algum tempo…
Rico – Sim, sim, ainda bem que falas nisso. Sabes se a urna tinha fechos de ouro, como pedi no testamento? E as flores, foram encomendadas à Holanda? Só mais uma coisinha, sabes se no elogio fúnebre falaram sobre os meus investimentos?
Jesus – Aqui, és tu que tens de responder e não Eu. Mas, já que falas em investimentos, diz-Me, o que fizeste para ganhar a Vida Eterna?
Rico – Fiz bons negócios, ganhei dinheiro (abre a mala e mostra as notas); sou uma das 10 maiores fortunas mundiais; (diz vaidoso) o meu nome jamais será esquecido.
(Repentinamente) Vida Eterna, disseste ganhar a Vida Eterna? Bem, (abre de novo a mala e tira algumas notas) este dinheiro deve chegar; (diz convicto) compro-a!
Jesus – Quão difícil é para quem confia nas riquezas, entrar no Reino de Deus! (Estica o braço indicando a saída) Aparta-te de Mim!
(O rico sai indignado)
Idólatra – (Entra a beijar um “santinho”. Ao ver Jesus assusta-se). Aí credo, nossa Sra. (benze-se) Está aí há muito tempo? Oh, mas… (fala para si) parece mesmo um santinho. (Chega mais perto) Qual é o Seu nome?
Jesus – Jesus!
Idólatra – (Pensativa) Jesus, Jesus, acho que não conheço. Certamente nunca fizeste nada por mim, porque eu conheço todos os meus santinhos pelo nome (benze-se e mostra o “santo”), Óscar, (vai tirando “santos” da mala), Ambrósio, Graciosa, Rosinha, Ubaldo…
Jesus – Chega, agora diz-me, que bem te fizeram eles?
Idólatra – Ora então… Jesus, não é? (Jesus acena que sim) Bem livraram-me do mau olhado, não me faltaram com a comida, castigaram a ti Josefa…
Jesus – E deram-te a salvação?
Idólatra – Que salvação? Até parece que fui ao mar e me afoguei!
Jesus – Lembras-te de um dia teres entrado numa igreja onde o pregador falava sobre o único Deus e a forma de O alcançar?
Idólatra – (Benze-se) Valha-me nossa Sra. dos Aflitos (começa a dizer uma reza baixinho com o terço na mão, parando de repente). Deus nos livre disso, aquela igreja que não tinha santinhos, nem velas e onde as pessoas não se benziam? Ai, (diz com a mão no peito) até me aflige só de pensar que não havia ali quem nos protegesse.
Jesus – Enganas-te, Deus está em todo o lado e só Ele nos pode proteger…
Idólatra – Blasfémias, não sabes que… (beija o “santinho” e fica a olhar para ele) oh meu rico São Óscar, teres de ouvir estas coisas. (Vira-se para Jesus) Olhe lá, não sabe que é pecado negar o poder e os milagres dos santinhos? São eles que nos protegem.
Jesus – E também te deram a Vida Eterna?
Idólatra – Bem, eu acendia sempre velas a todos os santos, rezava especialmente ao São Óscar que é o meu santo de devoção, fazia peregrinações, nas procissões ia sempre perto do andor, por isso…
Jesus – Fizeste tantas coisas, mas não amaste o único e verdadeiro Deus, nem leste a Bíblia, que diz: “Guardai-vos, não suceda que o vosso coração se engane… e sirvais a outros deuses…” (Estica o braço indicando a saída) Aparta-te de Mim!
(A mulher sai tapando o rosto)
Celebridade – (Entra como se estivesse numa passarela) Este ângulo está bom? (Procura com o olhar entre as pessoas) Vejam lá se está aí alguma criança de rua ou de um lar, sempre tinha outro impacto.
Jesus – Então, que tens andado a fazer?
Celebridade – És de um jornal ou de uma revista? Se quiseres uma entrevista exclusiva é só dizeres. Onde está o teu fotografo?
Jesus – Não respondeste à minha pergunta. O que tens andado a fazer?
Celebridade – Caridade! Sei lá… desfilei para angariar fundos para os pobres e depois até tirei umas fotos com um desses miúdos… Uma canseira! Também dei um jantar para a… (faz uma pausa e tira uma revista da mala). Queres ver as fotos? (Jesus afasta a revista) Aqui fiquei meio desfavorecida, mas aqui fiquei ótima… e esta aqui com aquele jogador famosíssimo.
Jesus – Nada disso me interessa. Isso é só falsa caridade.
Celebridade – Espera lá… Tu és daquelas organizações protestantes?
Jesus – Eu sou Aquele que ama quem dá com alegria.
Celebridade – Sim… (Diz com ar de desprezo) Já me tinhas dito… Dar com alegria… O que faço é para promover o meu nome. As colunas sociais, o Jet Set, esses, sim, é que me movem. Relações interessantes, com gente interessante (aponta para si).
Jesus – E com tudo isso, fizeste alguma coisa para mereceres a Vida Eterna?
Celebridade – (Diz com ar presunçoso) A Vida Eterna? Um lugar no Céu? Ainda não chega o que te falei? Queres ver mais fotos? Tenho aí uma com a mulher do presidente para angariar fundos para os desalojados da guerra.
Jesus – Andaste tão ocupada, que não ouviste o que disse: “Guardai-vos de fazer esmolas diante dos homens, para serem vistos… pois não terão galardão junto do Pai que está no Céu. …” (Estica o braço indicando a saída) Aparta-te de Mim!
(Sai a dizer:) “Acho que você não sabe com quem está a falar.”
Jesus – Aproxima-te!
Religioso – Até que enfim, (olha à volta) ainda bem que estão cá poucos. Estava ansioso por Te ver e ocupar o lugar que me é devido.
Jesus – Espera! Ainda não te interroguei.
Religioso – Interrogar para quê? Não é verdade que sabes tudo?
Jesus – Sim, mas acho que tu não te conheces.
Religioso – Ora, ora (diz com ar de santinho), que mal posso ter feito para ter de ser julgado?
Jesus – Todos vêm a julgamento. Responde, costumavas ir à igreja?
Religioso – Claro, todos os domingos pela manhã, lá estava eu no culto das 11h. Era o culto mais frequentado…
Jesus – E oravas, lias a Bíblia, davas bom testemunho?
Religioso – Ora… Isso são perguntas que se façam a um crente? Desde miúdo que sei vários versículos da Bíblia. Também sou bom a abrir a Bíblia. Queres experimentar? (Jesus recusa com a cabeça). E quanto às orações, devo dizer-te que todos gostavam de me ouvir… às vezes até me punha de joelhos, que é coisa que já não se usa. (após uma breve pausa) Ah, é verdade, e tenho a Bíblia toda sublinhada. Queres ver?
Jesus – Não, não vale a pena. Fala-me agora daquele assunto que escondias da tua mulher e da igreja.
Religioso – (Olha para todos os lados e fala baixinho) Como é que soubeste disso?
Jesus – Esqueceste-te que sei tudo?
Religioso – (Tosse justificando-se) Bem, lembra-te que sou humano.
Jesus – Pois é, tu gostas de viver de aparências, mas a mim interessa-me o espírito e não a letra. Quando é que te arrependeste? Quando é que te comprometeste com Deus? O que fizeste para ter a Vida Eterna?
Religioso – (Meio engasgado) Mas, eu gastei a minha vida a ir à igreja e afinal…
Jesus – Pois Eu te digo: “Quem não nasceu de novo, não pode ver o Reino de Deus!"
Religioso – (Põe-se de joelhos) Por favor…
Jesus – (Estica o braço indicando a saída) Aparta-te de Mim!
(Sai a bater com a mão no peito)
Criança – (Entra a saltitar e a cantar) “Sou uma florinha de Jesus, sou uma florinha de Jesus…” (Para admirada) Oh!
Jesus – (Sorrindo) Conheço essa música.
Criança – És tu, não és? (Jesus sorri) Que bom, o que eu mais queria era estar ao pé de Ti. (Olha para todo o lado) É tudo tão lindo! (Gira sobre si própria) Estou mesmo contente.
Jesus – Queres acabar a música que estavas a cantar?
Criança – (Canta com alegria) “Abro a boquinha para falar, fecho os olhinhos para orar…”
Jesus – Isso que cantas é verdade?
Criança – Sim, eu orava todos os dias e contava as histórias da Bíblia aos meus amigos.
Jesus – Muito bem. E como és pequena, só devias fazer coisas boas.
Criança – (Envergonhada) Não, às vezes eu pecava. Desobedecia à mãe, zangava-me com a minha amiga lá da escola. Uma vez, não me apetecia fazer os trabalhos da escola (diz baixando a cabeça) e disse que me doía a barriga.
Jesus – (Sorri condescendente) Fizeste essas maldades todas?
Criança – Sim, mas não te zangues comigo! (Explica) Sabes, era como nos desenhos animados, parecia que tinha uma voz boa aqui (aponta para uma orelha) e uma má aqui (aponta para a outra orelha) e depois… (pausa), mas quando eu pensava a sério naquelas coisas feias, pedia perdão a Deus e a quem tivesse feito mal.
Jesus – Certamente já ouviste falar da Vida Eterna, que fizeste para a merecer?
Criança – Não sabes? Amei-te com muita força e orava a Deus para me ajudar a fazer só o que Ele queria.
Jesus – Vem cá, (aponta para o Livro) estás a ver aqui o teu nome? Tu és uma das minhas ovelhinhas. (Abraça-a)
Criança – E Tu és o meu Pastor por isso, vim viver Contigo e nada me faltará!
Jesus – (Dá a mão à criança e saem juntos) “Em verdade, em verdade vos digo, quem não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira alguma entrará Nele!” (Saem)
Desconhecido
Junta-te a nós